quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pensa que travesti é bagunça?

”Pela milésima vez uma reportagem envolvendo travestis mais atrapalha do que ajuda na imagem das transgêneros do nosso país. Quem assistiu o último “Profissão Repórter”, que abordava a profissão do sexo, viu. Viu a travesti Luana Muniz passar três dias sem um cliente e socar um rapaz bêbado ou drogado, que topou um programa, mas depois correu atrás.
Com sua frase: “Pensa que travesti é bagunça?” vi muitas bichas caírem na risada e usarem-na como bordão, como se aquilo fosse de fato engraçado. Mas é triste, lamentável, vergonhoso. Em nenhum aspecto contribui para nada, nem para ninguém. Ao contrário, só reforça o estereótipo do submundo, do perigo, da marginalidade. E reforça – e muito – o já imenso preconceito contra todas as outras travestis e transexuais na visão do mundo hétero.
Sei que nem Luana pensava que a reportagem fosse levar esse rumo quando foi convidada. Mas enquanto a falecida Andréia Albertini propagou a imagem da trans que tentam dar o golpe (mesmo em uma história mal explicada, onde Ronaldo conseguiu dar a última voz, vide Fantástico), ela infelizmente propagou a da violência barata. De fato deve ser desesperador e revoltante trabalhar por três dias, passar o frio do cão e não conseguir ninguém para ganhar o pão de toda noite. Mas aquele cara não tinha nenhuma relação com a situação dela, nem atrapalhou um programa. Ou seja, ela não perdeu nenhum cliente por conta dele e, além do mais, ele estava em total desvantagem.
Bom, quem me conhece sabe, sou um defensor de toda a causa trans. Tanto que, quando Luana Muniz foi musa do fotógrafo Pedro Stephan, no ensaio intitulado “A Rainha da Lapa”, divulguei aqui no Mix e no site da revista Junior com o maior prazer. Mas vi que de Rainha da Lapa, mesmo, ela deixou a desejar. É quase impossível concordar com um caso desses. Muito menos dar risada, como muita gente está fazendo.
Aliás, é extremamente curioso o fato de muitas bichas se divertirem com a desgraça dos outros. Quem não se lembra do caso da Vanessão? Para mim não existe nada mais humilhante que ser exposto em um programa policial de quinta, por um apresentador tirador de sarro, levando uma acusação de quinta, por um senhor de quinta, sendo motivo de chacota para todos... A repetição pode até ser risória, mas de que adianta rir e depois reclamar da falta de direitos, do preconceito, da homofobia? E eu não gostaria que nenhuma irmã, amiga ou conhecida passasse por isso.
Já já Luana vira camiseta, emotion de MSN. Mas porque não fazem uma camiseta da Luma Andrade, Janaina Lima, Geia Borghi, Thayná Rodrigues, Alessandra Oliveira, Patrícia Araújo? Ou melhor, porque não fazem uma reportagem com trans que realmente ajudem na construção de uma imagem benéfica? Mesmo que nas ruas ou em um trabalho formal... Luana, sei que travesti não é bagunça, mas desse jeito fica difícil entender, né?”

Fonte:
MixBrasil
Blog Dois Terços

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